Estudo pioneiro da propriocepção

Valéria Cristina

Todas as pessoas possuem sensores nos ligamentos, tendões e nas articulações que enviam ao sistema nervoso central a orientação espacial dos movimentos. Há uma correlação entre o equilíbrio da força e a correta percepção do movimento. Um exemplo dessa dinâmica pode ser visto em um jogo de vôlei, em que o levantador lança a bola para um dos ponteiros de rede do seu time e este último salta para a cortada. Muitas vezes o centro da bola não é atingido, o que pode prejudicar o efeito da jogada planejada pelo atleta.

Além da associação do dinamômetro isocinético com a propriocepção, o Laboratório de Pesquisa Neuromuscular investirá também na eletromiografia, técnica de mapeamento dos estímulos elétricos -- com a ajuda de eletrodos, realizados durante um movimento voluntário. Dessa forma, será possível verificar o percentual de unidades motoras utilizado no momento exato do emprego da força. No esporte, de maneira geral, o desempenho pode ser medido pelo equilíbrio do uso da força e a economia de energia. Além disso, a boa performance do atleta pode estar associada também ao perfeito sincronismo das descargas elétricas das unidades motoras de um determinado músculo acionado na hora do movimento. Exemplos desses casos são os saltos no atletismo ou nos exercícios de solo dos ginastas olímpicos.

Fora das quadras e arenas esportivas, quem se submete a cirurgias ou sofre traumas e lesões de ombro e de joelho também apresenta uma capacidade proprioceptiva deficitária. O novo laboratório vai facilitar a orientação do programa de exercícios de reabilitação física para pessoas comuns. O trabalho permite, ainda, reavaliações da eficácia desses mesmos procedimentos e redirecionamentos, caso sejam necessários. Das cerca de sete mil cirurgias feitas anualmente no Into, 60% dos casos poderão ser beneficiados pela nova unidade, na reabilitação de seqüelas traumáticas causadas por acidentes de trânsito, violência urbana, quedas de altura, acidentes durante práticas esportivas (lesão ligamentar de joelho e de menisco), além das artroplastias (colocação de próteses) de quadril e joelho, entre outros.

O paciente Allisson Delfino é um dos que podem ser beneficiados pelo novo setor. Ele sofreu uma queda da laje de sua casa, de uma altura aproximada de 18 metros, teve múltiplas fraturas nas duas pernas, com lesões graves e encurtamento em uma delas. O comerciante de 31 anos, morador da cidade de Carangolas, em Minas Gerais, foi transferido para o Into pelo sistema de Tratamento Fora de Domicílio (TFD), após enfrentar quase três anos sem poder se locomover, se recuperando das cirurgias de emergência e de um quadro de infecção. No Instituto, foi operado no início de janeiro deste ano e aguarda ansioso pela avaliação no laboratório. "Acho que vou fazer ainda outras cirurgias, mas já iniciei o trabalho de reabilitação. Espero que com este novo equipamento, eu volte logo a caminhar", disse o paciente.

O paciente Allisson Delfino pode ter programa de reabilitação planejado no novo setor

O diretor geral do Into, Francisco Matheus, enfatizou que a inauguração do laboratório representa um grande avanço para o atendimento pós-cirúrgico de pacientes com diversos tipos de patologias, além de chamar atenção para parcerias com clubes e confederações esportivas. "Para a área assistencial do Instituto, este novo setor representa a possibilidade de realização de avaliações mais precisas e indicação de programas de reabilitação pós-cirúrgicas mais adequadas, mais rápidas, minimizando riscos de seqüelas e devolvendo a qualidade de vida aos pacientes. Além disso, iremos trabalhar com várias linhas de pesquisas na área desportiva. Pretendemos formalizar parcerias com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), disse o diretor.

O diretor geral do Into, Francisco Matheus, o ministro da Saúde Temporão e a jogadora Virna na inauguração do setor

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, destacou o padrão de excelência do Into e a importância da inauguração do laboratório e suas possibilidades de atuação. "O laboratório vai permitir a qualificação no atendimento de pessoas que são submetidas a cirurgias de joelho e quadril. Será possível fazer simulações vendo, com detalhes, toda a estrutura do funcionamento do músculo esquelético. Isso vai possibilitar um tratamento mais adequado. Além disso, vamos trabalhar ainda com treinamento para atletas", disse o ministro.